domingo, 7 de março de 2010

Carta Aberta da AMB - 8 de março de 2010 - 100 anos do Dia Internacional da Mulher!


Carta Aberta da Articulação de Mulheres Brasileiras às/aos parceiras/os e aliadas/os dos movimentos sociais democráticos.

8 de março de 2010
CENTENÁRIO DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER:
Cem anos de LUTAS FEMINISTAS

Movimentos feministas e mulheres do mundo inteiro celebram, neste 8 de março, as conquistas e vitórias nestes cem anos.

Nós da AMB, celebramos o crescimento da organização política das mulheres, no Brasil e no mundo, processo que se enraiza por toda parte, no campo e nas cidades, nos espaços de trabalho e de moradia, nas artes, na imprensa alternativa, na academia, entre as organizações da sociedade civil e nos movimentos sociais.

Celebramos a afirmação de nós mulheres como sujeito político e celebramos a diversidade de identidades políticas que se constituíram ao longo deste anos e que enriquecem o feminismo. Às mulheres negras, indígenas, ciganas, lésbicas, trabalhadoras rurais, quebradeiras de côco, camponesas, pescadoras, sindicalistas, jovens feministas, ribeirinhas e quilombolas que atuam na AMB e em suas organizações próprias, nossa saudação!

Sabemos que de nossa luta feminista já resultaram muitas conquistas, na política e na vida cotidiana. No entanto, ainda temos muito pelo que lutar. É preciso denunciar que ainda somos minoria na direção de movimentos e partidos e nos espaços de representação de nosso sistema político.

No mundo do trabalho persiste a prática de discriminação salarial, o assédio moral e sexual e a negação de nossos direitos. Nós mulheres somos maioria entre a população sem qualquer proteção social ou direito trabalhista.

Permanece a prática da violência sobre nós mulheres, um instrumento da dominação masculina. Nossa sexualidade ainda é marcada pela violência sexual, presente em nossas vidas - seja como dolorosa experiência seja como possibilidade ameaçadora - desde a infância até a velhice.

Vivenciamos a exploração sobre nossos corpos e auto-imagens pela indústria da propaganda, pela indústria da beleza, pela indústria da medicina estética e pela industria do sexo.

Somos punidas, maltratadas, humilhadas, perseguidas, intimidadas e criminalizadas quando fazemos aborto ou quando lutamos por este e outros direitos. Somos ameaçadas em nossos direitos pela persistência do racismo em nosso país e pela crescente expressão de homo-lesbofobia. Somos ameaçadas em nossos direitos pelas políticas neoliberais que reduzem investimentos nos serviços públicos em favor do capital financeiro. Somos ameaçadas em nossos direitos pelas políticas desenvolvimentistas que bloqueiam a possibilidade de autonomia econômica das pequenas produtoras e seus empreendimentos familiares em favor dos interesses de lucro das transnacionais e empresas estatais.

Por isso, neste 8 de março, estaremos mais uma vez nas ruas e praças enfrentando os conservadores e representantes do sistema de dominação que no oprime e explora.

Reconhecemos no agronegócio do monocultivo e no hidronegócio, a nova face do latifúndio, expressão mais antiga do patriarcado no Brasil. Identificamos nos fundamentalistas religiosos e conservadores a nova face da inquisição, expressão do poder patriarcal religioso que tenta controlar nossos corpos, nossas crenças e nossas vidas. Apontamos a grande mídia televisiva e os jornalões como um quarto poder opressor racista, sexista, homo-lesbofóbica e vassalo da classe proprietária e de seus privilégios.

Por tudo isto, afirmamos o firme propósito de prosseguir na luta feminista pelo fim de todas as formas de opressão e dominação das pessoas e da natureza.

Convocamos e convidamos a todas as mulheres para somarem-se na luta feminista por uma sociedade justa, democrática, solidária e ambientalmente equilibrada.

Por nossa autonomia e liberdade.

Neste 8 de março, junto com outros movimentos sociais, levantamos a bandeira de defesa integral do III PNDH-Plano Nacional de Direitos Humanos e a legitimidade das Conferências de Políticas Públicas. Saímos às ruas com a Frente Nacional pelo Fim da Criminalização das Mulheres e pela Legalização do aborto.

Nos somamos às lutas em favor da reconstrução de um Haiti livre e soberano e prestamos nossa homenagem às líderes feministas Myriam Merlet, Magalie Marcelin e Anne Marie Coriolan, que morreram durante o terremoto que assolou o país em 12 de janeiro.

Articulação de Mulheres do Brasil
www.articulacaodemulheres.org.br
amb@articulacaodemulheres.org.br

A AMB é uma articulação política não partidária, que potencializa a luta feminista das mulheres brasileiras nos planos nacional e internacional. A AMB tem sua ação orientada para a transformação social e a construção de uma sociedade democrática, tendo como referência a Plataforma Política Feminista (construída pelo movimento de mulheres do Brasil, em 2002). No presente contexto, a AMB se orienta por cinco prioridades: a mobilização pelo direito ao aborto legal e seguro, a ação pelo fim da violência contra as mulheres, o enfrentamento da política neoliberal, a organização do movimento e a luta contra o racismo e a lesbofobia
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ARTICULAÇÃO DE MULHERES BRASILEIRAS, 8 de Março de 2010.


“Que nada nos defina. Que nada nos sujeite.
Que a liberdade seja nossa própria substância”
(Simone de Beauvoir)

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