quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sai Lula entra Dilma e a traição aos trabalhadores permanece. Leia "O SALÁRIO DA INFIDELIDADE" escrito por Leonel Brizola em 2004 sobre o Sal. Mínimo.


"O salário da infidelidade"

O que separa o gesto do presidente Getúlio Vargas, há exatos 50 anos, acolhendo a proposta de João Goulart, presidente do Partido Trabalhista Brasileiro, dobrando o salário mínimo, desta vergonha deprimente praticada por Lula com o salário de milhões de trabalhadores e aposentados, não é apenas a grandeza moral de Vargas frente à frieza covarde do atual presidente. Mais do que a infidelidade aos compromissos assumidos com aqueles que o elegeram, o que afasta Lula daquele estadista de meio século é a falta de visão social e das enormes potencialidades deste país.

A distância entre Vargas e Lula é muito, muito maior do que aquele salário 4 vezes maior que os míseros R$ 260 com que o atual Presidente, um ex-operário, escarnece agora os trabalhadores.

Esta distância é a que separa uma visão de soberania, de desenvolvimento e de justiça para o Brasil, de um olhar conformado e cúmplice de um sistema que condena nosso povo a sofrer cada vez mais e a se degradar na violência e na necessidade, enquanto o país mergulha na dependência, no atraso e numa crise que só se aprofunda.
Lula, por ambição e fraqueza, tornou-se cúmplice, porque capitulou docilmente a este sistema, que antes dizia condenar. Ele aceitou as regras que nos condenam à submissão e à pobreza. Tornou-se, assim, prisioneiro de uma lógica infame, a da recessão, do desemprego, da pobreza, do arrocho, do sacrifício dos aposentados como se fossem estes os caminhos do desenvolvimento. Tudo vai bem e não há crise para estas maria-antonietas da modernidade, que todos os dias se jactam de seus "sucessos" na economia, comemorando, já sem nenhum pudor, os aplausos do FMI, do governo Bush e dos banqueiros internacionais.

Natural que os novos "militantes" de Lula batam palmas para seu Governo. Jamais ganharam tanto dinheiro à custa do povo brasileiro. Apenas dois bancos tiveram lucros de mais de R$ 1,5 bilhão só nos primeiros 3 meses do ano. Os grupos dominantes nunca tiveram governantes mais capazes de renegar tudo que disseram antes para tornarem-se capitães-do-mato do sistema de espoliação imposto ao Brasil. O cara-durismo é tanto que vem José Dirceu dizer que é preciso ter a "coragem" de tirar ainda mais dos aposentados e pensionistas, desvinculando do mínimo seus parcos ganhos. Coragem era ele quem deveria ter, e confessar ao povo que ele e a direção do PT enganaram ao povo, praticando um verdadeiro estelionato eleitoral.

A população, que estava perplexa com os rumos do governo Lula, já mostra sinais de justa inquietação ante o comportamento daqueles em quem, de boa-fé, tanto confiou. O presidente já tem de esgueirar-se para evitar vaias e não pôde sequer ir ao 1o. de Maio em São Paulo. As ruas, que o consagraram há menos de 2 anos, estão condenando sua falsidade. Oxalá ele mudasse os rumos, mas nem isso parece possível, tantos e tão profundos são agora seus compromissos com os que se beneficiam do seu triste e surpreendente governo.

O povo, que conservou no carinho de sua memória aquele Vargas que lutou e morreu para que o trabalhador se emancipasse, há de lançar o anátema de seu desprezo aqueles que, 50 anos depois, traíram os sonhos e as esperanças desta nação".

06 de maio de 2004.

Leonel Brizola

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