quinta-feira, 23 de junho de 2011

Semana Leonel Brizola - Parte 5/5 - EDUCAÇÃO E OS CIEP'S


Com a passagem do dia 21 de junho, data do falecimento de Leonel de Moura Brizola 2004, a BRISA irá ao longo da semana lembrar fatos da vida política deste político brasileiro que demonstram a coerência de suas idéias populares e nacionalistas que permanecem a orientar aqueles que lutam por um Brasil verdadeiramente democrático e igualitário.



BRIZOLA, UM MONUMENTO A EDUCAÇÃO
Por Alceu Collares

"...o que considero sua maior obra é a proposta de libertar o povo brasileiro da pobreza, através da educação. Quando governou o Rio Grande do Sul, semeou, em todos cantos, seis mil e 300 escolinhas de madeira destinadas ao ensino fundamental e abriu 700 mil novas vagas para garantir estudo a todos os gaúchos.

No Rio de Janeiro, construiu mais de 500 Cieps para concretizar seu ideal de fazer uma revolução permanente e superar, através da educação, as dificuldades do Brasil. Nessa obra inédita, a escola de tempo integral onde a criança carente recebia ensino formal e informal e ficava protegida da violência das ruas e da marginalidade.
[...]
Leonel Brizola partiu, mas nos deixou um monumento à educação que é o Ciep. Deixou ao povo brasileiro e a nós trabalhistas, herdeiros do seu legado, seus ensinamentos, sua luta, sua bravura, sua persistência, sua crenças e, principalmente, sua fé no Brasil".



"CIEPs - As escolas integrais"
Por Darcy Ribeiro

Sou um homem de sorte, tive muitas alegrias na vida. Nenhuma maior, porém como a de conduzir o Programa Especial do Rio de Janeiro, que foi e é o mais amplo e ambicioso empreendimento realizado no Brasil. Devo esta alegria a Leonel Brizola, mesmo porque minhas idéias educacionais são as defendidas há cinqüenta anos pelos melhores educadores brasileiros.

Nenhum deles teve, porém, aquilo com que contei: o total apoio de um estadista da educação com a coragem de investir um bilhão e duzentos milhões de dólares neste Programa, que absorveu 54,91% do orçamento do Rio em 1993.

No plano numérico, alcançamos e superamos a meta de edificar os 500 CIEPs. Eles aí estão como grandes escolas magnificamente projetadas por Oscar Niemeyer, implantadas em amplos teremos, funcionando como educandários e como dinâmicos centros culturais e civilizatórios para as populações da periferia metropolitana a que servem prioritariamente. Com efeito, os CIEPs abrem nos fins-de-semana para a população circundante, seus ginásios-cobertos, seus campos de futebol e suas cinqüentas piscinas, para práticas esportivas e para festividades. O mesmo ocorrre com suas bibliotecas - mais de 500, com cerca de 500 obras bem selecionadas, proporcionando boa leitura. Tudo isso sob a orientação de animadores culturais que passaram a ser uma figura nova nas escolas do Rio, ao lado dos tele-educadores e dos professores de informática.

Lamentavelmente, dos 506 CIEPs construídos, perdemos 97, entregues à Prefeitura da cidade do Rio, que os utiliza como meros edifícios, abrigando a velha escola de turnos. Salvaram-se os 409, entregues à administração estadual da educação. Destes, 343 funcionam como CIEPs, de 1ª a 5ª série, que oferecem 205 mil vagas nos cursos diurnos e 137 mil nos cursos noturnos.

Os outros 66 são Ginásios Públicos, que dão cursos de 6ª a 8ª séries do ensino fundamental e de 1ª a 3ª no nível médio, atendendo a 58 mil alunos presenciais e a outros tantos em programas de educação à distância, através de módulos de estudo e monitoração, apoiados em programas de televisão, emitidos diariamente de 9 às 10 da manhã, pela TV Manchete, para todo o país.

Nossa conquista mais importante, entretanto, reside na preparação do magistério e na elaboração do material didático, tanto impresso, como em video-cassete e em disquetes. Perto de 10 mil normalistas, amitidas como bolsistas, realizaram programas de aperfeiçoamento, através de recursos audio-visuais e do trinamento em serviço, devidamente orientado por educadoras experimentadas.

Preparação prático-teórica

Esta preparação prático-teórica do professorado das diretoras e do pessoal de serviço, permitiu elevara acima de qualquer expectativa o rendimento escolar dos alunos nos CIEPs. Medido, através de avaliação externa realizada por equipe autônoma, esse rendimento foi, no mínimo, de 88% para alunos com três anos de escolaridade e de 74% para aqueles que estão na 5ª série. Isso significa que se nosso regime fosse o das provas de reprovação, aqueles percentuais corresponderiam aos alunos aprovados, o que representa o triplo do que se alcança na escola convencional.

O êxito alcançado pelos CIEPs, enquanto de tempo integral, de dedicação exclusiva para alunos e professores, demonstra factualmente o erro cruel em que incidem aqueles que insistem em manter o sistema de turnos, que é uma pervesão brasileira.

Nossas crianças não são melhores do que as de todo o mundo civilizado, que julga indispensável uma escola de dia completo para que sua infância se integre no mundo letrado. Em conseqüência, não há outro caminho para que o Brasil venha, um dia, a dar certo que o de generalizar a educação tipo CIEPs.

Os CIEPs demonstram também que todas as crianças são suficientemente inteligentes para aprender o que se ensina no curso fundamental. A maioria delas, porém, necessita ajudas compensatórias da pobreza em que vivem e do atraso de suas famílias, que não tiveram escolaridade prévia, nem têm casas e facilidades para que seus filhos estudem orientados por algum parente letrado. Demonstramos exaustivamente que toda a infância brasileira é capaz de ingressar no mundo das letras para se formar como um trabalhador prestante um cidadão lúcido, se lhes forem dadas algumas ajudas fundamentais. Primeiro que tudo, uma educação de dia completo; segundo, uma escola suficientemente ampla para que passem o dia estudando, fazendo exercícios físicos e brincando; terceiro, uma dieta alimentar balanceada, banho diário, assistência médica e dentária, além de uma hora de estudo dirigido.

O custo mensal por aluno destes serviços, contabilizado nos CIEPs, é de 44,53 dólares, sendo 13,94 para custear a merenda, 4,24 para uniformes e 4,16 para saúde e esporte. Estes custos, aparentemente altos, na verdades são mais baixos do que a escola pública que se oferece à infância brasileira, porque o rendimento escolar se mede é por produto, correspondente ao número de crianças que completam o curso, e que nos CIEPs é três vezes superior. Acresce a estes gastos, o material didático que produzimos, dezenas de livros e folhetos, numa tiragem de 11 milhões de exemplares, destinados aos CIEPs e à rede pública. E, ainda, a elaboração de 30 cursos em video-cassete e a produção e adaptação de múltiplos programas de ensino por computador.

O balanço de nosso Programa Estadual de Educação quebra vários preconceitos e esclarece várias questões cruciais, tergiversada freqüentemente por esta pedagogia alienada e vadia que se cultiva no Brasil.

Comprovou, primeiro, que a culpa do fracasso da criança pobre em nossas escolas não é da crianças, mas da escola, que de fato só é adequada para alunos que venham de famílias que tiveram escolaridade. Comprovou também, para nossa alegria, que não é verdadeiras a alegação de que a criança que não comeu bem nos três primeiros anos de vida torna-se irrecuperável para a educação. Não é verdade, mesmo entrando nos CIEPs com três a quatro centímetro menos de estatura e com a aparência tão raquítica, que parecem ter cinco anos quando já completaram sete, todas elas em seis meses começam a recuperar peso e altura e a ganhar vivacidade e alegria para a aprendizagem.

Comprovamos, ainda, que o sistema de reprovação primitiva, que punitiva, que só se aplica em nosso país, é mais uma discriminação classista do que uma pedagogia. Nos CIEPs a progressão contínua permite aos alunos vindos das famílias mais atrasadas alcançar um rendimento progressivo e, a partir da 3ª série, equiparar-se aos alunos mais afortunados, aprovando um mínimo de 74% deles ao fim do cursos fundamental.

Comprovou-se finalmente que o menor abandonado de que temos tantos milhões no Brasil é, de fato, uma criança desescolarizada. Quer dizer, desciepada, porque só uma escola de tempo integral pode retê-los durante todo o dia , retirando-os da escola do crime e do lixo, e manter 90% deles freqüentando as aulas durante cinco anos, porque nos CIEPs não há evasão. Acresce que cada CIEP mantém duas famílias de pais sociais, vivendo em instalações que dão para cuidar de vinte e quatro alunos residentes. Isso perfaz no conjunto dos CIEPs uma oferta de mais de oito mil vagas para salvar crianças do abandono; 4.778 das quais já foram ocupadas temporária ou permanentemente.

Em conclusão, me dou o gosto de afirmar que com os CIEPs nós educadores, começamos a nos aproximar da massa maior da infância brasileira, com a capacidade de vê-la tal qual é e de ajudá-la a superar, pela educação, suas deficiências, para si própria e para o Brasil. A verdade é que mais de 90% das crianças freqüentam nossas escolas por mais de 4 anos, o que demonstra o apreço da nossa população pela educação e a consciência de que seus filhos só progredirão na vida se progredirem na escola. O crime maior que viemos cometendo e em que tantos idiotas ainda persistem é oferecer a essa multidão de crianças uma escola de turnos totalmente inadequada às suas necessidades. Tomam a minoria ínfima de alunos de classe média que, a rigor, nem precisariam dela como seu verdadeiro alunado, porque é o único capaz de progredir numa escola de turnos. O que chamamos evasão escolar não é mais do que expulsão da criança pobre por uma escola que rejeita e maltrata a imensa maioria de seus alunos. (Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro, março de 1994)


SAIBA MAIS:
- "Centros Integrados de Educação Pública: uma nova escola"
http://www.scielo.br/pdf/ea/v5n13/v5n13a04.pdf

- "Centros Integrados de Educação Pública"
http://pt.wikipedia.org/wiki/Centros_Integrados_de_Educa%C3%A7%C3%A3o_P%C3%BAblica

- "CIEPs de hoje estão longe do sonho de Brizola"
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2008/05/420644.shtml

- "À Profª Amanda Gurgel, em memória de Leonel Brizola"
http://marildacamposp.blogspot.com/2011/06/prof-amanda-gurgel-em-memoria-de-leonel.html#comment-form

- "CIEPs:Um legado abandonado de Darci Ribeiro e Leonel Brizola!"
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2008/05/420639.shtml

- "Para onde caminham os CIEP's? Uma análise apóis 15 anos"
http://www.scielo.br/pdf/cp/n119/n119a08.pdf

- "A tendência multiculturalista na proposta inicial dos CIEP's: da perspectiva teórica à prática pedagógica"
http://www.avm.edu.br/monopdf/6/LOURDES%20TAVARES%20PEREIRA%20DOS%20REIS.pdf

- "Memórias das escolas de tempo integral (CIEP's) no Rio de Janeiro: documentos e protagonistas
http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe1/anais/017_ana_maria_vilella.pdf

- "CIEPs, tarefa democrática avançada"
http://www.pdt-rj.org.br/colunistas.asp?id=303

- "Os Centros Integrados de Educação Pública"
http://www.pdt.org.br/index.php/nossas-bandeiras/educacao/mais-sobre-os-cieps/os-centros-integrados-de-educacao-publica

- "Educação no Brasil, por Darcy Ribeiro"
http://www.pdt.org.br/index.php/nossas-bandeiras/educacao/mais-sobre-os-cieps/-propostas/reforma/educacao-no-brasil-por-darcy-ribeiro

- "CIEPs - Exemplo para o Brasil"
http://www.pdt.org.br/index.php/nossas-bandeiras/educacao/mais-sobre-os-cieps/-propostas/reforma/cieps-exemplo-para-o-brasil

- "A vida nos CIEPs"
http://www.pdt.org.br/index.php/nossas-bandeiras/educacao/mais-sobre-os-cieps/a-vida-nos-cieps

- "A proposta pedagógica dos CIEPs"
http://www.pdt.org.br/index.php/nossas-bandeiras/educacao/mais-sobre-os-cieps/-propostas/a-proposta-pedagogica-dos-cieps

- "Regimento Interno dos CIEPs"
http://www.pdt.org.br/index.php/nossas-bandeiras/educacao/mais-sobre-os-cieps/regimento-interno-dos-cieps

- "CIEPs - O esforço começou no RS"
http://www.pdt.org.br/index.php/nossas-bandeiras/educacao/mais-sobre-os-cieps/experiencia-no-rs

- "O Governo Brizola e a Educação"
http://pdt12.locaweb.com.br/paginasmenu.asp?id=33

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